Um dia para correr bem precisa de sol, amigos, beijinhos,trabalho, pressa, telefone sempre a tocar e gargalhadas. O mais curioso é que precisa disto tudo junto e, idealmente, mais qualquer coisa que surpreenda ou que seja uma boa notícia, basta um destes elementos faltar e fica o dia incompleto, não pensamos no resto que nos trouxe brilho ao dia só pensamos no que faltou. Quando à noitinha preenchemos a folha de presenças e fazemos a chamada parece que só ouvimos o silêncio das ausências e vemos o vermelho das faltas, talvez porque o azul, com que se marca as presenças, não chama tanto a atenção e é mais dado como adquirido do que devia.
O que está em falta é a sombra maior que o objecto em si, é o balanço que não bate certo, a nuvem que está a estragar o céu aberto. É a ausência sempre presente no pensamento que quando queremos acreditar que o dia até foi bom, embora não tenha sido perfeito, não nos deixa dar mais que 13 numa escala de 0-20, se fosse sorte a materializar-se num dado não passaria de um 4 e num totoloto se calhar até dava para um 3. Mas, por mais que se queira pensar que foi bom, que até nem foi tão mau como se diz, há qualquer coisa que não nos deixa dizer que o dia foi tão bom que até escapou. Teve tudo para ser bom ( e em alguns aspectos até que foi), porém os mas que enchem o pensamento sobrepõem-se aos bons momentos e quando alguém nos pergunta se foi bom o dia, temos aquela dificuldade em responder logo que sim! Tem se vontade de dizer que não! Não, porque até podia ter sido bom, mas teve final inesperado como nos filmes de suspense, não porque desiludiu, ... Há a tentação de cair no conforto dos lamentos e de um ouvido disposto a ouvi-los e, então, mentindo-se um pouco e reconhecendo ou querendo crer que simplesmente há dias assim, diz-se "O dia não foi mau de todo."
Balançam na minha cabeça o dia que passou e o amanhã que se aproxima, em que disputam o equílibrio a memória sombria e a esperança que se deposita num novo dia.
