Confesso que tinha preparado um texto para a vitória do não e não para a vitória do SIM, desde ontem que estava um bocado pessimista e, por isso, decidi-me precaver contra o pior. Passei o fim de semana em nervos e quando votei senti estes três meses de campanha a materializarem-se em apenas 5 segundos. A partir das 19h foi a vitória do SIM que que se começou a apoderar do meu pensamento e foi com enorme alegria e emoção que pude constatar que o SIM ganhou, que nada do que eu tinha escrito e pensado nos dois dias anteriores era verdade. Por isso, hoje ao contrário de triste e envergonhada, sinto-me feliz e orgulhosa.
Estou feliz porque acho que esta realidade que cerca de 60% dos portugueses querem alterar é, de facto, o panorama mais justo e merecido e que reflecte a sociedade que queremos. Sinto, finalmente, que estamos a agir de acordo com o país optimista, solidário e moderno que em parte somos, mas sobretudo que queremos ser, e não como "velhos do restelo". O resultado do referendo é a voz do Portugal que quer avançar, que quer ser mais e melhor, que quer mudar.
Hoje demonstrámos a crença que temos em nós mesmos ao dizermos SIM à pergunta que acaba com as mulheres na prisão, o aborto clandestino e que dá uma oportunidade de provar que podemos ter uma conduta responsável e consciente das nossas vidas, até às 10 semanas de uma gravidez, sem a ameaça de uma lei penal a vetar qualquer consideração individual sobre o assunto. Uma sociedade que mostra acreditar em si mesma desta maneira é, sem dúvida, uma sociedade com um futuro melhor à sua frente.
Vi este quadro exposto no jantar de encerramento de campanha dos movimentos pelo SIM e achei bonito, o Nuno Inácio, apesar de não gostar de “quadros tristes”, fotografou-o para mim. Acho que é a imagem mais adequada para hoje, pois representa que a vergonha que nos caracterizava, em toda a perversidade que envolvia o aborto clandestino, acabou!
2 comments:
Não faz para mim qualquer sentido ter vergonha das opiniões, crenças e sentimentos que os portugueses possam ter... Não faz para mim qualquer sentido considerar que existia uma "vergonha que nos caracterizava" antes da vitótia do "Sim"... Não faz para mim qualquer sentido considerar que somos melhores e mais correctos agora que mudámos, pois existem inúmeros registos históricos que provam que a mudança nem sempre é positiva.
Obviamente aceito a posição tomada e compreendo o que "vos" leva a tomar essa posição. Mas não aceito nem por um leve instante que considerem "vergonhosa" a outra posição, não aceito que se fale em "hipocrisia", que digam que um país sem esta "liberalização" é um país "atrasado" e que quem votou "Não" o fez porque não abre os olhos para ver a triste realidade que existia com o aborto clandestino ou porque é machista ou isto ou aquilo.
Parabén ao "Não", mas gostava de ter visto maior respeito pelas "opiniões diferentes"...
Para mim faz sentido repudiar certas opiniões desde que estas se fundem numa questão hipócrita, falsamente moral, que, como neste caso, desrespeite o direito a uma justiça social, à saúde e à liberdade individual.
ACho uma vergonha viver num país que criminaliza mulheres por não puderem pagar um~aborto com as condições minimas de higiene num país estrangeiro. Acho mesmo vergonhoso haver mulheres que morrem com úteros perfurados, ficam estéreis, criam infecções devido às condições precárias do sítio onde puderam pagar um aborto. Porque a realidade no nosso país era mesmo essa~. Quem queria interromper uma gravidez e tinha dinheiro não o fazia em portugal. Preferia estar num mundo em que este problema não existisse, mas já que infelizmente existe prefiro que quem o deseje fazer possa faze-lo com a dignidade e condições de higiene necessárias. Quando uma sociedade prefere negar esse problema, em vez de arranjar uma solução que o minimize, não é uma sociedade que me orgulhe de viver nela. QUando se enfrenta o problema e se arranja uma oportunidade de solução acredito que se está a tentar ser melhor e mais correcto, na minha perspectiva uma sociedade assim está a funcionar como deve.
A mudança é históricamente boa, existem cerca de 2500anos de história a comproválo na sua gfrande maioria. E sobre este assunto há a experiência, de cerca de 20 anos, do resto dos países europeus a comprovar como esta mudança é proveitosa. E posso-te assegurar uma coisa este é muito bem um dos indicadores a considerar no desenvolvimento de uma sociedade, estive em malta há pouco tempo onde ainda é ilegal a ivg e posso-te dizer que numa sociedade tacanha, pouco modernizada e muito tradicional, como é a maltesa, não me admira que esta seja um problema tabu e crime, em Portugal não consigo aceitar esta situação. A ilegalidade da ivg até pode ter sido reflexo do que em tempos fomos, mas de certeza que não representa a sociedade que hoje somos.
DAniel,muito obrigada pela tua visita e pelo teu comentário =)
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