Friday, August 3, 2007

Almada com memória

Adoro fotografias antigas e de sobretudo comparar os pormenores que distanciam as épocas, ao receber por email estas imagens de Almada fiquei absolutamente fascinada. Primeiro, porque esta cidade, que é a minha casa, "fala" pouco do seu passado e poder descobri-la assim através de algumas fotografias acaba por ser um dos raros meios de conhecê-la melhor, segundo porque ver o que Almada foi permite constatar a qualquer um que esta é uma cidade que cresceu muito, mas sobretudo que cresceu mal. Muitos sítios felizmente e infelizmente continuam na mesma, a Cova da Piedade ainda vai conservando a muito custo o seu jardim com coreto, bem como os seus edíficios, e locais como o gingal ou olho de boi continuam exactamente da mesma forma que décadas atrás.
Faz falta conservar em vez de construir de novo e, por vezes, é melhor recuperar uma zona do que ir aos poucos destruindo-a. Há uma certa graciosidade nestas fotografias, porque era Almada a construir-se a ela própria e não a ser só mais uma cidade. Ao perder a sua essência, a restar pouco ou nada do que almada foi em tempos, a não ser ruínas, esta cidade não só cria uma fraca imagem de si enquanto centro urbano, como ao eliminar a sua memória vai corroendo a sua identidade. As cidades suburbanas tem enormes problemas em crescer e Almada não sendo, ainda, o melhor exemplo dessa verdade, caminha para lá a passos largos. Esta cidade não precisa de ser mais, só precisa de ser melhor, não precisa tanto de inovação, mas sim de consolidação. Almada transformou-se num gigante de betão sem memória e, apesar de todo o progresso alcançado, não é a olhar sempre para a frente que se constrói um futuro melhor.


Estrada Cova da Piedade-Laranjeiro (1962)


1962



Largo da Cova da Piedade -1962


Cova da Piedade, 1962


Jardim da Cova da Piedade, 1962



1900


1954




Gingal na década de 40



Olho de Boi na década de 40

2 comments:

Putz said...

Estas fotos são sem dúvida, fascinantes! Infelizmente, dá para constatar o grau de abandono que existe em alguns locais como Cacilhas e o Gingal, mas isso são consequências do desenvolvimento das cidades que podem ser resolvidas...desde que exista vontade política para as solucionar.
Peace.

Rita said...

exactamente!a vontade política quanto a este assunto é determinante, é o que pode fazer dos locais com potencial na nossa margem uma vantagem ou um eterno calcanhar de aquiles.

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