Saturday, April 14, 2007

Diários de Malta II- Nem no Vaticano!


Os malteses são de uma religiosidade quase sem fim! A Páscoa é vivida de forma intensa, por isso na véspera de sexta-feira santa já os principais monumentos estão fechados e nas igrejas estão a decorrer missas a um ritmo quase de non-stop. Quem quiser ver alguma igreja tem que ser até às 12h, porque a esta hora estas encerram e começam os sinos a marcar o meio-dia. E quem pensa que somente são dadas doze badalas, engana-se, mais do que isso apanha um valente susto porque de repente num espaço de 5 minutos começam as igrejas todas da cidade e arredores a dar uso aos seus sinos como se não houvesse amanhã.Apesar da situação inesperada e de ser inevitável imaginar, com algum gozo,os malteses naquele cenário recolhidos em casa em extâse religioso, este é um espectáculo surreal e impressionante. Não há rua que escape ao som dos sinos e não há como não nos sentir cercados por algo que inevitavelmente nos faz pensar em religião e nos faz, até, olhar para La Valletta como uma cidade que tem algo de sagrado.

E isto é apenas uma amostra, porque enquanto a Páscoa dura, os malteses fazem questão de lembrar esta época através de cruzes e panos negros que a maior parte das casas ostentam, de exposições sobre a paixão de cristo que cada paróquia organiza para recolher donativos, de janelas que algumas pessoas transformam em pequenos altares, do luto que envergam nas procissões de sexta feira santa, das bandeiras que neste dia encontram-se TODAS (e o que não falta em Malta são bandeiras) a meia haste, sinos em plena capital a chamarem para as missas, igrejas repletas de gente, procissões majestosas...

Porém, segundo um ourives maltês, com quem falámos impressionadas com tal aparato religioso, os malteses já não ligam tanto à páscoa como antigamente. Há cerca de 40 anos, na sua infância, nem sequer permitiam as crianças brincarem nestes dias que precedem o domingo de páscoa. Tive a oportunidade de ler uma sondagem que referia mais ou menos nestes termos que "já 52% dos malteses tinham por hábito ir regularmente à missa". O que me fez pensar que em Portugal esta taxa era o regozijo de qualquer padre.

E se os americanos e a maior parte do mundo podem não saber onde é Portugal, mas é bem possível que grande parte dos malteses saiba perfeitamente onde o nosso país fica por um só motivo. Em conversa com o dono de um restaurante, enquanto ele me gozava e fazia uma piada religiosa por eu levar imenso tempo a escolher um prato (enfim começa a ser um lugar comum), a dizer que o se eu fosse rapaz o meu nome devia ser Tomás, porque eu era como este Santo que só acreditava quando via (aquela expressão do 'ver para crer' vem daqui), e eu estava a dizer que não conhecia esse Santo, nem conhecia a história... É quando ele diz com incredulidade, "mas ele é um apóstolo!" e pergunta com desconfiança "mas vocês são da onde?", "Portugal!"...eis que os seus olhos brilham e com ar sério e instrospectivo diz "já estive lá!" e as três tagarelas tugas começam "ai sim? e gostou? e esteve aonde?", ao que ele responde com solenidade "estive em Lisboa, mas gostei especialmente da Cova da Iria." Nós nem percebemos à primeira, só quando repetiu é que nos apercebemos que ele se estava a referir a Fátima!!!!!!!! Entre o espanto e o embaraço, lá dissémos "Of course!Fátima!!", ao que ele diz, enquanto se afasta de nós," é um lugar muito especial para nós malteses", a melhor coisa e a maior mentira que me saiu foi "Para nós também!".
Depois desta férias, tenho para mim, que um dia que o Bin Laden tome conta disto tudo, a Igreja católica tem no povo maltês um exército e em Malta um bastião supremo da igreja católica. Porque, garanto por experiência própria, Páscoa assim, nem no Vaticano!

2 comments:

Anonymous said...

pq é k mentiste? tinhas medo de ser linchada se falasses a verdade?

Rita said...

Confesso que havia esse medo =P , mas Fátima para mim também é em parte especial, não sei explicar porquê. Habituei-me a ir lá com a minha mãe e não posso dizer que é um sítio na minha religiosidade que me é indiferente.
Acontece-me isso também em Siena, na catedral que tem o altar da Madonna del Vuoto.
Enfim, naquele dia menti mais por cortesia fiquei surpreendida com o facto de ele conhecer Fátima.